terça-feira, 26 de abril de 2016

Resenha #28 - O Rei de Amarelo


Definido pelos autores e roteiristas Neil Gaiman e Nic Pizzolatto como contos perturbadores com toques de terror cósmico, apresentamos o temido Rei de Amarelo.


Comprei esse livro pela curiosa imagem de um rei aparentemente degradante na capa e pela sinopse que apresentou. Vamos conferir?



O livro é dividido em três partes no qual resumirei cada uma juntamente com a resenha e minha humilde opinião rs.

A REPUDIADA PEÇA DE TEATRO – O REI DE AMARELO

Nessa seleção de contos, quem lê o estranho livro com capa de cobra, intitulado como o Rei de Amarelo, começa a sofrer com terríveis efeitos físicos e psicológicos, causados pela sua escrita perversa e pelo seu Rei maltrapilho vestido com seu manto amarelo gasto e sujo.


Em O Reparador de Reputações, conhecemos Hildred, que após sofrer uma queda de um cavalo, foi levado ao hospital psiquiátrico para tratamento. Durante sua convalescência, Hildred comprou e leu pela primeira vez o Rei de Amarelo. Quando recebeu alta, passou a trabalhar para um velhote chamado Sr. Wilde, de aparência esquisita e de teorias lunáticas, que era conhecido como Reparador de Reputações.
E agora chegará a vez de Hildred acertar as contas com seu primo Louis. Seguindo os preceitos do Rei de Amarelo e do Sr. Wilde, finalmente chegara a hora de reivindicar seu lugar de direito. Afinal de contas, ele era o herdeiro legítimo do trono e não poderia permitir que sua coroa fosse tomada. Louis seria mesmo capaz de tomar posse de algo que não fosse seu?

Em A Máscara, conhecemos três amigos: Alec, Boris e Geneviève. Além da grande amizade, havia também um círculo amoroso entre os três, que nunca fora revelado. Alec amava Geneviève , que era casada com Boris.
Certo dia, Boris contou a Alec que tinha criado uma substância capaz de preservar qualquer coisa viva, com um esplendor único e permanente. Após uma demonstração terrível, Alec se abala igualmente quando descobre que Geneviève adoeceu, e em seu estado febril, revelou sua paixão por ele na frente de Boris. Alec não podia mais se esconder atrás da máscara que usou durante anos, e adoecendo também, lembrou-se do Rei de Amarelo e na Máscara Pálida.
Quando se recuperou, descobriu que Boris havia se matado depois que Geneviève não quis mais saber da vida. Alec herdou a casa, mas jamais teve coragem de olhar para a sua amada Geneviève, que jazia diante da madona na enorme sala de mármores.

O terceiro conto, No Pátio do Dragão, o personagem principal, após ler o temido livro, tenta buscar refúgio dentro da igreja de São Barnabé. Ele adora ouvir os sermões de Monsenho C e os hinos reproduzidos através do órgão da sagrada igreja. Mas naquele dia, os acordes não estavam certos. Estavam fora dos padrões, que no seu ponto de vista era algo totalmente desrespeitoso. Ao olhar na direção do órgão, sentiu um enorme arrepio ao se deparar com uma figura magra com um rosto tão branco quanto sua casaca era negra.
Ele precisava ir embora, e chegando ao quinto andar de sua casa, localizada no Pátio do Dragão, viu a terrível figura de cara branca o observar lá debaixo. Em um pulo, despertou e ouviu barulho de cadeiras se arrastando e o Monsenhor C descendo do altar. Não podia acreditar que dormiu durante o sermão. Essa visão era um sonho ou uma transição com a realidade?

O Emblema Amarelo é o conto mais perturbador dessa primeira parte. Scott é um pintor que atualmente está trabalhando com uma modelo chamada Tessie. Certa vez ao tomar um fôlego na janela, viu um homem no pátio da igreja que o deixou terrivelmente abalado, a ponto de borrar a cor da pele da mulher em sua tela, deixando-a com aparência doentia. Tessie observando o mesmo homem gritou aterrorizada, dizendo para Scott que havia tido um pesadelo envolvendo ele e o ser esquisito lá no pátio. A princípio Scott achou que era imaginação, que só era alguém parecido com o homem, até o dia que teve o mesmo sonho.
A vida de Tessie foi tirada pelo Rei Amarelo e a sua já estava no final. Será que o sonho era um aviso de que suas almas pertenciam ao temido Rei?



Os primeiros contos são, sem dúvida, os melhores do livro. Uma mistura de horror com ficção muito bem construída que nos leva a sentir calafrios só de pensar no temido Rei de Amarelo. O conto que atormentou cada personagem não é apresentado na íntegra, o que não atrapalha em nada o entendimento dos leitores. Pelo contrário, ficamos ainda mais curiosos em saber o quão terrível essa encenação era realmente. Ficamos com aquela sensação de: Será que eu teria coragem de assistir a essa peça? Se eu visse esse livro na minha estante, eu o escolheria? Foi justamente por essas incertezas que a estrutura dos quatros contos me conquistou.

São assustadores e intrigantes na medida certa para a época em que foi escrito, e por isso se tornou um grande clássico da literatura, inspirando até mesmo o meu queridinho Stephen King.


A TRANSIÇÃO

Essa etapa do livro nos mostra a transição da fantasia para a realidade, mas sem deixar de manter a presença do temido Rei.

A Demoiselle d’Ys conta a história de um homem que se perdeu e, sem mais esperanças de achar seu caminho, acaba encontrando uma bela moça que vivia com um grupo de falcoeiros, e por quem se apaixonou perdidamente. Ele jurou que sempre ficaria ali com ela, que nunca a abandonaria, até que o destino decidiu que levaria sua vida através da picada de uma víbora. Mas será o fim?

O Paraíso do Profeta é uma série de poemas em prosas que trás alguns trechos vividos nos contos anteriores. É o marco da transição para as próximas histórias.


ROMANTISMO NA BOEMIA PARISIENSE

Particularmente, não achei ligação alguma entre esses contos com os primeiros, a não ser pelos homônimos e coincidências. Não há nenhum terror envolvendo a leitura do Rei de Amarelo e nenhuma loucura ocasionada por ele.
Pelo contrário, aqui os temas são amor, paixão, lutas, sorte e final feliz ocasionado pela sorte.

A Rua dos Quatro Ventos é o conto mais “realista” após a transição. Depois de ler mais de uma vez você consegue notar uma pequena ligação com os dois primeiros. É marcado por um encontro do acaso, graças a visita de uma convidada inesperada.

A luta pra salvar a vida de sua amada em meio ao término do cerco em Paris por tropas prussianas foi o tema de A Rua das Primeiras Bombas. Um mix de amor e fracasso pessoal descreve o conto.

Nos dois últimos, o ponto forte é a decepção amorosa. Em Rua de Nossa Senhora, Clifford se apaixona por Valentine e não pode ficar com sua amada, pois seu coração pertencia a um rapaz ingênuo, recém-chegado e de coração puro. No outro também se apaixona, e chega a pedir a mão de Rué Barée em casamento, que tem seu pedido negado pelo mesmo motivo. Ou seja, Clifford, considerado um ser decadente, foi superado pela chegada de outros homens que roubaram seus amores.

Resumindo, quando cheguei nessa parte eu meio que li correndo os contos. Como o foco foi perdido, não senti a mesma empolgação inicial. Então não tenho como me aprofundar sobre cada um. Eu sei que deveria ter me esforçado um pouco mais, mas não rolou.


No geral, não atendeu muito as minhas expectativas. Queria que todos os contos fossem como os quatro primeiros. Não entendi a lógica dos contos amorosos. A meu ver foi mais uma contradição de gêneros do que uma mudança de fase.

Mesmo com essas críticas finais, a minha nota foi média devido os contos iniciais. Somente lendo pra entender o quão perturbadores são. Por causa deles que recomendo a leitura. Para quem não vê problemas com a mudança brusca de tema, não encontrará nenhum problema com os romances. Voltarei a lê-los em outra oportunidade sem passar pelos contos de introdução.


Para saber mais sobre o livro e autor, acesse o Skoob clicando aqui.

Ótima leitura!

Um comentário:

  1. Olá, Ju.
    Sempre tive curiosidade em relação a esse livro, então a sua resenha foi perfeita para tirar minhas dúvidas.
    Acredito que os contos iniciais irão me agradar mais, assim como foi contigo. Mesmo sem ter lido o livro, não entendi bem a escolha pelos contos finais.

    Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de abril. Serão três vencedores!

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